
Para a cidade mineira de Patrocínio, guardar na memória a história de Rosa Garcia Brandão é mais que um privilégio — é um convite à reflexão sobre fé, resiliência e amor. Por muitos anos, Rosa viveu recolhida no casarão da esquina entre as ruas Coronel João Cândido e Cesário Alvim. O chão de tábua corrida, as amplas janelas e o silêncio da rotina contrastavam com a força silenciosa de uma mulher que, mesmo sem andar, nunca parou.

Rosa foi considerada por anos sem movimentos para caminhar. No entanto, dentro do seu quarto, entre orações e trabalhos manuais, ela encontrava propósito e expressava uma delicadeza rara. Com os braços firmes e as mãos sempre ocupadas, transformava linhas finas Mercer 60 e novelos de lã em peças de crochê e tricô de impressionante perfeição. Sua voz, suave como melodia, embalava as conversas com a irmã Eni, companheira incansável que cuidava dela com carinho diário.
O quarto de Rosa era também um santuário. Um oratório ocupava lugar de destaque, e o terço, sempre dependurado na cabeceira, era usado em orações feitas não só por ela, mas por muitos que vinham pedir sua intercessão. Desconhecidos deixavam pedidos, confiando em sua fé serena e inabalável. A cada oração, ela costurava esperança no coração de quem a procurava.
Quem recebia uma peça feita por Rosa sabia do valor que carregava. Não era raro ouvir, ao servir um café coado na hora, em bandejas enfeitadas com suas criações: “Foi a Rosa que fez.” A perfeição dos pontos impressionava. E ainda emociona. Uma dessas peças, presente da tia Isabel Cruz, continua guardada com carinho por quem testemunhou de perto essa história.
A dedicação de Rosa ao trabalho manual também envolvia toda a família. O pai, por exemplo, ia até a cidade buscar caixas de linha Mercer — cada uma com dez novelos, cada novelo com 300 metros — encomendadas por clientes que sabiam da sua habilidade. Ponto a ponto, Rosa tecia sem pressa. O tempo era outro, guiado pela paciência e pela beleza do feito à mão.
Não era só Rosa que encantava com as agulhas. As irmãs Lassi — especialmente tia Nenê, tia Cecília, dona Alcídia, dona Abadia e tia Carmen — também criavam verdadeiras obras de arte. Os enxovais bordados, as roupas de recém-nascido, os sapatinhos delicados… Tudo respirava amor e capricho.
Mas talvez o que mais tocava fosse sua fé. Após anos em silêncio e recolhimento, Rosa surpreendeu a todos ao voltar a andar. Para muitos, um milagre. Para ela, uma bênção conquistada pela entrega completa à fé, pela aceitação do seu caminho e pela crença profunda de que “Deus opera maravilhas”.
Rosa Garcia Brandão viveu com humildade, oração e graça. Sua história continua viva nos detalhes dos panos bem cuidados, nas lembranças familiares e agora, com ainda mais força, nas fotografias enviadas por Geraldo Teixeira de Lima. Na primeira imagem, Rosa aparece ao lado da irmã Eni, segurando o pequeno Geraldo no dia do seu batizado. Na segunda, posa com a grande amiga Terezinha, mãe dele.
Depois de anos à espera, a imagem veio como resposta — mais uma, talvez, das muitas graças silenciosas que rodearam a vida de Rosa.
— Adaptado do texto de Monica Othero Nunes